Empresas investem mais na qualificação da base


29 set 2010 - Trabalho / Previdência

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Treinamento: Com a escassez de mão de obra operacional, cursos antes direcionados exclusivamente aos níveis mais altos chegam ao chão de fábrica


Com o objetivo de diminuir a rotatividade de profissionais e formar seus próprios talentos em um momento de escassez de mão de obra qualificada, as companhias estão aumentando seus investimentos em programas de treinamento. A educação corporativa, no entanto, não está mais focada apenas nos níveis de liderança. A falta de profissionais especializados tem feito o mercado apostar na formação da base da pirâmide.

"As empresas estão entendendo que seus resultados são diretamente ligados ao desempenho do nível médio para baixo", afirma Marcos Bruno, diretor do Instituto Pieron, que realiza treinamentos corporativos. A alta gerência, segundo ele, sempre foi privilegiada com a atenção dos programas de qualificação e treinamento. Muitos recebem esse tipo de incentivo até mesmo no pacote de benefícios, negociado no momento da contratação.

O cenário, porém, começou a mudar nos últimos anos com a escassez de profissionais especializados também no chamado chão de fábrica. "Para combater o déficit educacional do Brasil, as empresas investem em programas específicos de suas áreas de conhecimento. O objetivo é garantir uma performance melhor", afirma.

De acordo com a pesquisa de de tendências de recursos humanos 2010, realizada pela Deloitte com 130 empresas, 83% das companhias devem investir em formação técnica no nível operacional este ano. O levantamento apontou ainda que 47% delas devem promover treinamentos comportamentais, também com foco nos profissionais da base. De acordo com Fábio Mandarano, gerente da área de capital humano da Deloitte, os treinamentos operacionais são normalmente ligados aos processos das empresas. Já os comportamentais abrangem o trabalho em equipe e o atendimento ao cliente. "A economia está crescendo e as empresas querem conquistar mercados, lançar produtos, inovar processos e trabalhar com novas tecnologias. É preciso treinar pessoas para se adaptar a essas mudanças", afirma.

O levantamento da consultoria revelou que, neste ano, as empresas pretendem investir quase duas vezes mais em treinamento do que em 2009. É o caso da multinacional holandesa Akzo Nobel, indústria de tintas decorativas, que investirá R$ 3 milhões em educação corporativa até o fim do ano. O valor é quase o dobro do que foi gasto no ano passado. Em 2010, a empresa incluiu o nível operacional em um programa que tem como objetivo a formação de líderes. Atualmente, 40% dos 1,1 mil funcionários da organização já participaram do treinamento. A intenção é estendê-lo a todos os colaboradores até 2011.

O diretor de recursos humanos da empresa, Ivo Locci, afirma que o aquecimento do mercado influenciou na decisão de investimento, mas que o programa atende também a outros objetivos "Estamos integrando todos os departamentos. Há uma grande troca de experiências entre os funcionários."

A expansão dos treinamentos, segundo os especialistas, é generalizada e atinge todos os setores. Indústria, comércio e serviços têm se preocupado em incluir mais níveis nos seus programas de qualificação profissional. No caso da Drogaria São Paulo foi criado um departamento de treinamento e desenvolvimento em janeiro para atender ao aumento da demanda por pessoal qualificado. Além do desafio do crescimento orgânico -18 lojas serão inauguradas até o fim do ano -, a rede também precisou treinar 1,5 mil novos funcionários incorporados com a aquisição do Drogão, em junho.

O aquecimento da economia e o turnover rápido obrigam a empresa a geralmente treinar mais colaboradores do que o previsto inicialmente. "Temos uma força de trabalho muito jovem, em início de carreira. O nosso modelo de negócios é baseado em uma capacitação constante. Afinal, no varejo, o funcionário é a cara da empresa", afirma o diretor de marketing da empresa, André Elias.

Na avaliação de Willian Bull, diretor da consultoria Hewitt, as atenções das empresas se concentram nos talentos mais críticos e na mão de obra técnica, que não existem em abundância no mercado. "As companhias perceberam que não adianta roubar gente da concorrência, pois, no futuro, elas também perderão funcionários. A solução é treinar", afirma.

Muitas empresas, segundo Bull, acabam fechando parcerias com universidades e escolas técnicas para treinamento específico. A Camargo Corrêa, por exemplo, treinou mais de 4 mil profissionais de nível operacional na usina de Jirau em parceria com o Senai de Rondônia. Cerca de R$ 8,5 milhões serão investidos em 31 tipos de cursos de capacitação. No total, serão formadas 10 mil pessoas na região. Também em Rondônia, a Odebrecht investiu R$ 12 milhões em um programa de treinamento. Foram capacitados 33 mil trabalhadores - mais de 30% já estão atuando em obras no local. O projeto da Odebrecht foi replicado pela empresa em outras regiões para suprir a falta de qualificação na base.

No setor de serviços, os desafios são a ampliação das atividades e o relacionamento com o cliente. O plano de expansão de agências para os próximos três anos fez com que o Santander aumentasse em 30% o investimento em treinamento este ano. A instituição planeja abrir 120 agências em 2010, o que demandará a contratação de profissionais para a "linha de frente". No segundo semestre, o banco abriu um processo seletivo para 200 gerentes, tendo como público-alvo universitários e recém-formados.

Os selecionados serão treinados por quatro meses para fortalecer o quadro comercial da instituição. "Por ter um grande número de colaboradores, o varejo concentra boa parte dos nossos investimentos", afirma Marco André Ferreira da Silva, superintendente executivo de recursos humanos do Santander.
 

 


Fonte: Valor Econômico