5 out 2010 - Simples Nacional
Os pequenos negócios representam mais de 90% dos estabelecimentos formais no Brasil e, pela geração de emprego e renda, têm papel estratégico no desenvolvimento econômico e social
Há um ano o casal Edson e Karla Watanabe abriu uma empresa na área de alimentação depois de ter passado uma temporada levantando recursos no Japão. A proeza do próprio negócio foi fruto de um sonho acalentado por décadas alicerçado por muito planejamento e pesquisa. Adriana Caldeira de Oliveira Barbetta é empresária do setor de turismo e eventos há sete anos, mas só com o baque da crise financeira mundial, em 2008, se deu conta da necessidade de reestruturar o seu negócio.
Os dois exemplos de empreendedores de Londrina estão entre milhares no Brasil que comemoram hoje o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa. Os pequenos negócios representam mais de 90% dos estabelecimentos formais no Brasil e, devido à expressividade da geração de emprego e renda, têm papel estratégico no desenvolvimento econômico e social do País. Só em agosto, conforme dados do Sebrae, as pequenas e micros empresas (MPEs) foram responsáveis por 70,9% dos 299.415 mil empregos com carteira assinada no Brasil, uma tendência seguida no Paraná.
De janeiro a agosto deste ano, segundo levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, as micros e pequenas empresas criaram 1.343.479 empregos com carteira assinada, mais do que o dobro dos 611.061 gerados pelas médias e grandes.
Até o final de 2010, se forem mantidas as mesmas condições econômicas, a projeção é de que o setor possa gerar mais 600 mil empregos, alcançando mais de 2 milhões de novos postos de trabalho no ano. Os negócios de maior porte devem ficar com cerca de 500 mil novos empregos no mesmo período. Os pequenos deverão criar cerca de 80% do total de empregos durante todo o ano. Entre os setores que mais contribuem para esses resultados, o de maior destaque é o de serviços.
Exemplos
Para abrir o restaurante Edikasa, Edson e Karla Watanabe recorreram à consultoria especializada e fizeram um plano estratégico de negócio. A ideia de trabalhar com alimentação foi sendo formatada até se transformar em uma espécie de ''cozinha delivery''. A empresa atende empresas e pessoas físicas fazendo entregas e também vende a comida no local. Porém, não há espaço para fazer a refeição ali.
São três tamanhos de marmitex com dois cardápios diários - um deles é light. Duas vezes por semana também entra no cardápio a feijoada tradicional e em breve a empresa deve lançar uma opção de salada de folhas verdes. O cardápio light é responsável por 40% das vendas.
A empresa começou servindo 15 marmitex por dia e hoje a média é de 350 a 400/dia. Os preços ficam entre R$ 6,50 e R$ 10,50 e na maioria dos casos não há taxa de entrega. Para 2011, a meta é implementar a chamada refeição transportada, atendendo empresas que queiram servir seus funcionários na própria sede. ''Estar dentro de uma cozinha e fazer disso uma atividade rentável é a concretização de um sonho'', diz Edson, que investiu R$ 100 mil no negócio e tem hoje 11 funcionários.
Persistência
Adriana Barbetta trabalha na área de turismo há 23 anos e há sete abriu um negócio próprio. A Bless Viagens e Eventos foi criada com base na experiência de Adriana, que só depois da crise financeira mundial viu a necessidade de fazer um planejamento estratégico. ''Uma coisa é você saber vender e ter conhecimento de mercado. Outra, bem diferente, é fazer a gestão da empresa. Eu pequei muito na gestão e fui sentir isso quando veio a crise'', conta a empresária.
Depois de buscar consultoria especializada, a empresária enxugou as estruturas física e de pessoal e viu o negócio renascer. ''Hoje tenho custo fixo reduzido em 40% e a rentabilidade da empresa é a mesma'', comemora. A clientela também aumentou, puxada por um projeto antigo que Adriana conseguiu colocar em prática: a organização de viagens de grupos evangélicos para Israel, um dos novos produtos da agência.
Lei Geral marcou a história
Há 20 anos, as estatísticas apontavam que cerca de 80% das empresas que abriam no Brasil fechavam com dois anos de vida. Hoje, conforme o Sebrae, esse índice caiu para 25%. Mudanças na legislação e a busca de conhecimento por parte dos empresários são apontados como principais avanços.
Para Heverson Feliciano, gerente regional do Sebrae em Londrina, um capítulo importante da história está na aprovação em 2006 da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que passou a vigorar a partir de 2007. ''Foi aí que o Brasil passou a discutir com mais profundidade formas de beneficiar as pequenas empresas'', observa.
A partir da Lei Geral, Feliciano destaca que as compras governamentais do poder público federal feitas de pequenas empresas aumentaram de 2% para 30%. ''Agora, Estados e municípios estão se adequando à legislação'', afirma. Ele também cita o aumento do volume de recursos destinados à inovação tecnológica. ''Dos fundos disponíveis para investimentos em tecnologia hoje no País 20% devem ser direcionados às micros e pequenas empresas''.
Fonte: Folha de Londrina / PR