16 jun 2016 - Contabilidade / Societário
Com novas exigências legais e a busca por redes multinacionais, pequenas e médias perdem competitividade e ganhos ficam comprometidos; previsão é de dois anos desafiadores
São Paulo - Com a globalização, o aumento das exigências legais e a alta concentração de mercado, empresas de auditoria independente precisam se reinventar para sobreviver. A previsão é que o faturamento do segmento se mantenha igual ou inferior à inflação em 2016, situação que ainda pode se agravar em 2017.
"As empresas estão com dificuldade de manter seus negócios nesse cenário", afirmou a sócia-diretora do Alonso, Barretto & Cia. Auditores Independentes, Angela Alonso, durante a 6ª Conferência de Contabilidade e Auditoria Independente realizada ontem em São Paulo.
Para ela, o aumento das exigências legais dos órgãos reguladores em caso de fraude é um dos principais gargalos do setor. "A responsabilidade está ficando muito grande. Nós temos uma técnica e damos uma opinião sobre os demonstrativos contábeis", explica. Um exemplo citado por ela é a normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que estabelece responsabilidade ilimitada às auditorias em caso de fraudes. "Não podemos ser responsabilizados por decisões da administração. Esses fatores estão deixando a auditoria cara", comenta.
A executiva comenta que em casos recentes de fraudes empresariais, muitos auditores sofreram processos e tiveram contas bloqueadas. "Isso gera um aumento do custo, porque o auditor tem que incluir o risco", analisa.
Segundo a executiva, outra consequência que este cenário pode gerar para as empresas de auditoria é o desinteresse pela área. "Quem vai querer correr esses riscos? Podemos ter um apagão de mão de obra", expõe.
O que pode ajudar?
Um fator que pode facilitar a vida das auditorias é o Novo Relatório de Auditoria que começará a ser utilizado nos balanços de 2016. "Ele é mais detalhado e pode ser uma forma de blindar a auditoria", analisa.
Apesar de encarecer um pouco a operação, por exigir mais participação dos sócios do escritório no processo, a nova norma também pode ser vista como uma forma de aumentar a interação entre auditor e os gestores.
Para o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Idésio Coelho um fator macroeconômico que poderia ajudar o setor é o incentivo de alguns mercados como o de cooperativas de crédito e o mercado de capitais para que pequenas e médias empresas possam ter acesso. "Além de ser uma oportunidade para o setor, melhorara a performance e o compliance das empresas. É necessário incentivar que firmas menores também sejam auditadas", afirma.
Segundo ele, entre as estratégias que as auditorias independentes - sobretudo, de pequeno porte - têm utilizado para conseguir manter a competitividade estão o redirecionamento para um nicho específico e a inclusão de serviços de outras áreas além da auditoria. "Está crescendo a demanda por consultoria, revisão de processo, adequação à lei anticorrupção e compliance."
De acordo com o sócio do escritório Magalhães Andrade S/S Auditores Independentes, Guy Almeida Andrade, outras saídas são a oferta de serviços que antecipem a auditoria e a formação de parcerias entre as companhias do ramo. "Desde que não comprometam a identidade como independente", diz. A meta da empresa para este ano será manter o mesmo desempenho de 2015, assim como a mesma base de clientes. "Também tentamos manter os mesmos honorários."
Pedra no sapato
Apesar das possibilidades, empresários deste ramo citam que outros fatores têm agravado a situação atual do setor. Entre eles, a globalização e a obrigatoriedade de rodízio de firmas de auditoria são as mais lembradas por terem reduzido o espaço de atuação das independentes. "Com a globalização, as empresas multinacionais optam por auditorias que têm atuação em outros países. Isso afastou as menores do mercado de capitais", explica Coelho, líder do Ibracon.
Já no caso do rodízio das firmas, o executivo conta que em cada mudança as companhias independentes perdem escala para as chamadas Big 4 do mercado - Deloitte, KPMG, PwC e S&P. "Não pela qualidade, mas pela força da marca. Existe uma tendência de aumento da procura por empresas globais", relata.
Além disso, ele aponta que com o rodízio fica mais difícil a negociação do preço. Frente a estes desafios, o executivo acredita que o mercado tenha um desempenho igual ou 'pouco' abaixo da inflação. "Em 2017 vai ser mais complicado, porque teremos um grande ciclo de rodízio de empresas grandes e com muito peso", complementa.
Fonte: DCI - SP