Formalização impulsiona crescimento de empresas


13 dez 2010 - Simples Nacional

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Com acesso a crédito, empreendedores individuais planejam melhorias

Comunidades de São Paulo e do Rio de Janeiro têm visto prosperarem negócios conduzidos por empreendedores que se formalizaram no último ano pelo MEI (Microempreendedor Individual), rebatizado de EI (Empreendedor Individual).
Motivada pela formalização e pelo aumento de poder aquisitivo, dizem especialistas ouvidos pela Folha, parte dos 84.233 empresários dessas capitais passa por um segundo processo: o de ampliação da oferta de produtos e serviços e de boas práticas de atendimento para alavancar o empreendimento.
Uma das explicações, indica o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, é o acesso a instrumentos de mercado como contato direto com fornecedores e possibilidade de obtenção de crédito.
Conseguir um empréstimo com juros mensais de 2,5% para implementar melhorias na empresa é um dos benefícios citados pelo cabeleireiro Valdeci José Pereira, 33, sobre a formalização.
Dono de um salão de beleza na zona leste de São Paulo desde 2004, o empreendedor aderiu ao EI em maio deste ano, contratou um funcionário, abriu uma conta bancária jurídica e providenciou a instalação de máquinas de cartão de débito e crédito.
De acordo com André Ferreira, sócio da consultoria Ernst & Young Terco, o cenário no Brasil está favorável tanto para a abertura de negócios quanto para o crescimento daqueles já existentes. "A perspectiva é a de que mais novas empresas sobrevivam", considera.

Exigências são entraves à expansão

Empresários criticam o limite de R$ 36 mil anuais de faturamento

Apesar de contarem com perspectivas de crescimento, empresários reclamam do limite de faturamento imposto pelo EI (Empreendedor Individual), de R$ 36 mil por ano, e das exigências em relação à tomada de microcrédito.
"É pouco, esse valor deveria ser o limite para o lucro, e não para o faturamento", assinala Eurico de Souza Medeiros, 53, proprietário da SOS Guarda-Sol, que faz manutenção de guarda-sóis no Rio de Janeiro, sobre o EI.
"Não identificamos essa reclamação", diz o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, que sugere solicitar mudanças se a dificuldade for detectada.
Em relação ao microcrédito, a insatisfação está ligada à forma de obtenção. As instituições determinam que o empréstimo seja feito em grupo. Todos são responsáveis pelo pagamento. "Se o outro deixa de pagar, tenho de cobrir", reclama a dona da loja de artesanato Féfi, Maricélia Ferraz Reis, 34.
O superintendente-executivo de microcrédito do Santander, Jeronimo Ramos, recomenda aos clientes se associarem a pessoas conhecidas, de confiança e idôneas.
Na opinião de Alberto Souza Silva, dono de uma casa de produtos típicos da região Norte, o fato de o empréstimo precisar ser pago no mês subsequente também atrapalha. "Às vezes, mal consigo fazer as vendas que planejei e já tenho de pagar [o empréstimo]. O prazo [de carência] deveria ser maior."

EMPREENDEDOR
INDIVIDUAL

FORMALIZAÇÃO E
PROCEDIMENTOS
- Consultar as atividades permitidas no EI no Portal do Empreendedor
(www.portaldoempreendedor.gov.br)
- Cadastrar-se no portal, no link "formalize-se agora"

BENEFÍCIOS
- Assessoria contábil gratuita no primeiro ano
- Cobertura previdenciária
- Possibilidade de instalar máquinas de débito

Fonte: Sebrae

Empreendedorismo vira opção para escapar do desemprego

Muitas vezes o desemprego impulsiona histórias de empreendedorismo. Um dos que passaram por essa experiência foi Alberto Silva, 51.
Há seis anos, sem emprego, tomou um empréstimo do São Paulo Confia, serviço de microcrédito da prefeitura paulista. Abriu uma barraca para vender produtos típicos da região Norte em Osasco, na Grande São Paulo.
"Fui crescendo e hoje tenho uma casa do Norte, que é o que eu sempre quis", diz ele, que tem planos para melhorar os balcões, comprar um freezer moderno e ampliar a área de atendimento.
A empreendedora Maricélia Ferraz Reis, 34, também programa mudanças para a Féfi, loja de artesanato que criou em 2004, quando estava desempregada, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.
A ideia, diz, é mudar para outro local do mesmo bairro. Assim, terá condições de ampliar o horário de funcionamento, que hoje vai até as 19h, para as 21h.

No RJ, pacificação amplia adesão

Mutirões organizados pelo Sebrae na cidade permitem que empreendedores se formalizem

DA ENVIADA AO RIO

O florescimento de empreendimentos nas regiões mais populares da cidade do Rio de Janeiro tem sido impulsionado por um motivo: a pacificação de comunidades.
A ação iniciada em 2008, no morro Dona Marta (zona sul), visa desmembrar o tráfico, facilitar a realização das obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e integrar as áreas ao Estado.
Neste ano, o Sebrae passou a visitar comunidades pacificadas para realizar mutirões de formalização.
Durante os mutirões, 1.030 empreendedores foram formalizados em quatro comunidades (Borel, Cidade de Deus, Pavão-Pavãozinho/ Cantagalo e Providência). O número não considera os processos realizados pela internet. No Estado estão 103.457 dos 781,6 mil formalizados do Brasil.
A formalização, que garante o CNPJ, permite a empresários como Alexandre Leôncio, 31, dono de uma loja de doces, negociar diretamente com fornecedores e ampliar as margens de lucro. "Posso adquirir por R$ 1,20 produtos do mercado que eu comprava por R$ 1,80."
O empreendedor individual Eurico de Souza Medeiros, 53, também se beneficiou com o registro de pessoa jurídica. As empresas que estão em sua cartela de clientes pouco a pouco deixam de aceitar recibo de autônomo e passam a exigir nota fiscal.
A pacificação também permitiu a ampliação dos horários de atendimento. Raul Guimarães, 57, morador de Jacarepaguá, tem um restaurante por quilo na Cidade de Deus (zona oeste).
Até 2009, as portas se fechavam às 16h. Agora, Guimarães busca aproveitar a infraestrutura do local para funcionar como pizzaria das 17h às 24h. "Quero empregar seis funcionários."
(JV)

Após perdas, comércio volta a abrir as portas

A operação policial ocorrida no fim de novembro no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, deixou como saldo 39 mortos e 89 veículos incendiados em apenas seis dias de ataques na cidade.
A movimentação mudou o cotidiano do comércio local durante alguns dias. Empresários tiveram que fechar as portas para se prevenir da violência. Apesar de acumularem perdas em relação ao período de fechamento, as empresas conseguiram normalizar as vendas após o conflito.
É o que afirmam empresários, entre eles Antonio Braz, o Toninho, que há dez anos tem uma loja de celulares no Complexo do Alemão e há quatro tornou-se revendedor da Tim.
"Fechamos dois dias. Achei que o comércio local reduziria as vendas, mas isso não aconteceu", afirma.
Os comerciantes das demais comunidades não acreditam na volta do tráfico. "Deve permanecer como está", comenta Eurico de Souza Medeiros, da SOS Guarda-Sol, no Dona Marta. Cristiano da Rocha, do Borel, concorda. "As coisas têm melhorado."

Grandes companhias invadem comunidades do Rio e de SP

O movimento de prosperidade e diversificação de negócios na periferia paulistana e nas comunidades cariocas tem chamado atenção das grandes empresas.
Uma delas é a Tim, que tem pontos de vendas no Complexo do Alemão e na Rocinha, no Rio de Janeiro.
A Caixa já tem uma agência em funcionamento na Rocinha, onde também estão presentes os bancos Itaú e Bradesco e lojas de fast food como Bob's e Super Mate.
Em São Paulo, essas empresas também começam a ser atraídas pelas comunidades. O Bradesco abriu, há pouco mais de um ano, uma agência em Heliópolis.
Lá, o Santander conta com agentes de microcrédito, bem como em Brasilândia e Paraisópolis. "Boa parte dos clientes ainda é informal", ressalta Jeronimo Ramos, superintendente-executivo de microcrédito do banco.
No ramo de franquias, há marcas voltadas a essas regiões. É o caso da Sorridents, presente em bairros como Capão Redondo, M'Boi Mirim e Parada de Taipas. Outras empresas nessa linha são o Instituto Embelleze, a Casa de Sorvetes Jundiá, a Mais Cursos e a Espetíssimo.


Fonte: Folha de São Paulo