17 mai 2018 - Comércio Exterior
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, disse ontem (16) que considera ter superado “a turbulência cambial” que levou o país a iniciar negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para pedir um empréstimo e acalmar os mercados. Mas deixou claro que tempos duros virão e que – segundo ele – o país está mais preparado para enfrentar a realidade de que os argentinos gastam mais do que ganham há “mais de 70 anos” e precisam cortar esses gastos já.
Macri disse que vai buscar um acordo com todas as forças políticas e os sindicatos para acelerar os ajustes que ele vinha implementando gradualmente desde que assumiu o poder, em dezembro de 2015. Perguntado se tinha uma autocriticada a fazer, ele respondeu que tinha sido demasiado “otimista” quando estabeleceu metas de crescimento e de inflação. O índice inflacionário, que o governo esperava reduzir de 25% em 2017 a 15% este ano, deve superar os 20%.
O presidente falou em uma entrevista à imprensa nacional e internacional, convocada para a tarde, para fazer um balanço da situação, depois da disparada do dólar que, na Argentina, ressuscitou os fantasmas da crise de 2001 – a pior da história recente do país. A coletiva faz parte da estratégia de comunicação de Macri, que pessoalmente anunciou aos argentinos a decisão de recorrer ao FMI. O órgão financeiro internacional, com sede em Washington, é rejeitado pela maioria dos argentinos, que associam o Fundo a ajustes e apertos.
“Ninguém vai nos condicionar”, disse Macri, ao garantir que o FMI não vai ditar que cortes precisam ser feitos. Essa decisão – explicou – precisa ser tomada pelos dirigentes políticos do país. Mas a Argentina terá que demonstrar que poderá reembolsar o empréstimo – e, para tanto, não pode gastar mais do que ganha. Segundo o presidente, esta e uma “oportunidade” para fazer o que ninguém fez em mais de sete décadas: acabar com o déficit fiscal (hoje equivalente a 6% do Produto Interno Bruto - PIB), que ele chamou de “flagelo nacional”.
Macri disse que está disposto a pagar o preço político por eventuais medidas impopulares – mas necessárias – que ele não detalhou. O presidente assegurou que está mais preocupado em tirar a Argentina do buraco do que com sua reeleição. Sem maioria no Congresso, o governo depende de acordos políticos para aprovar reformas polêmicas, como a trabalhista. “Sou otimista”, disse. E justificou: os argentinos aprenderam com o passado e estão mais conscientes de que precisam fazer esforços.
No meio da entrevista, o presidente sentiu a boca a seca e brincou com a situação: “Tanta austeridade que nem água tomei”.
Fonte: Agência Brasil - EBC