9 mai 2011 - Simples Nacional
Remuneração elevada e perspectiva de crescimento rápido de carreira são atrativos para profissionais
Elas movimentam 20% do PIB brasileiro, crescem até 30% ao ano e vão abocanhar até R$ 30 bilhões em oportunidades com a Copa de 2014.
Oferecem remuneração agressiva e perspectiva de crescimento rápido de carreira, desejo de nove entre dez profissionais da geração Y.
Entre os especialistas, não há dúvidas. Pequenas e médias empresas nunca estiveram tão atraentes e já representam um desafio para a retenção de talentos das grandes companhias.
"Até pouco tempo, muitos profissionais queriam ter a grande empresa como seu sobrenome. Mas hoje a possibilidade de fazer a diferença com um projeto já atrai mais do que o nome", diz Marcos Hashimoto, do Centro de Empreendedorismo do Insper.
Foi isso que transformou a rotina da paulistana Claudia Neufeld, 35. Ela trocou as salas de reunião da Unilever -onde foi de trainee a diretora global de marketing de cremes dentais- pela Digipix, "startup" (empresa iniciante) de álbuns digitais com faturamento pouco acima de R$ 10 milhões.
"Não ter resposta para tudo é um tanto desconfortável, mas o desafio de aprender motiva muito", diz Claudia, que encarou o desafio do comércio eletrônico, tão diferente do varejo de bens de consumo onde estava.
Outros casos como os da executiva começaram a ficar mais populares após a crise.
Segundo Carlos Eduardo Altona, sócio da Exec Partners, especializada em recrutamento, com a orientação para corte de custos muitas multinacionais puxaram o freio de mão e aceleraram a transição dos profissionais.
O desenvolvimento de pacotes atraentes de remuneração também contribuiu.
RECOMPENSA
As pequenas e médias já estruturam programas de recompensas com bônus anuais superiores aos das grandes. Para o nível de diretoria, algumas empresas já oferecem até dez salários (ante seis salários numa grande empresa), além de participações minoritárias na sociedade.
"Autonomia e velocidade na tomada de decisão também estão entre os atributos considerados. Muitas vezes existem apenas uma ou duas camadas de decisão até o presidente", diz Altona.
Foi agilidade um dos motivadores para o engenheiro Jack Sterenberg, 49, deixar uma posição de diretoria na subsidiária da gigante Oracle para assumir a direção-geral da Dimension Data, de integração de sistemas de tecnologia. No mundo, a companhia fatura US$ 5 bilhões, mas no Brasil ainda está em fase de crescimento.
"As empresas muito grandes viraram elefantes gigantescos, enquanto os clientes querem flexibilidade."
"Adrenalina" e novos desafios atraem profissionais a empresas
DE SÃO PAULO
Os profissionais que miram oportunidades em pequenas e médias empresas querem a possibilidade de empreender mesmo em uma companhia que não é sua.
"Muitos querem liberdade para dar ideias e sentir a adrenalina de fazer algo diferente", diz Gustavo Costa, da consultoria Hays Brasil.
Carlos Padula, 48, atual diretor-geral da Hope, está nessa categoria de executivos.
No fim de 2010, quando trabalhava na malharia Puket, foi convidado a ir para uma varejista com receita de mais de R$ 1 bilhão, mas preferiu atuar na profissionalização da gestão da Hope.
"Grandes empresas poderiam me oferecer desafios interessantes, mas dificilmente eu conseguiria participar de todas as etapas", diz.
No ano, a Hope espera faturar R$ 220 milhões e expandir operações.
Outros três executivos de liderança fizeram o mesmo trajeto, saindo de empresas como Nike e Caloi.
O Sebrae-SP identifica uma tendência de ex-executivos que iniciam negócios. Para cada empresa criada pela necessidade de sustentar o fundador, surgem duas por novas oportunidades.
"Entre os jovens de 25 a 34 anos, a relação é de 3,4 para cada uma", diz Bruno Caetano, diretor do órgão.
PROJETOS PESSOAIS
É comum executivos nessa idade desengavetarem projetos pessoais. Cyntia De Labio, 36, deixou a Accenture para abrir uma grife infantil chamada Peixe Amarelo.
Com foco no público A e B, a empresa está em processo de expansão e em 2012 deve faturar R$ 250 mil.
"Não foi fácil abrir mão de uma carreira com grande potencial de crescimento", diz.
A decisão é bem-vista pelo mercado, mesmo que as cifras iniciais sejam inferiores aos salários.
"É cada vez mais comum executivos abreviarem sua estada em multinacionais para se dedicarem a "startups" [empresas iniciantes]. Isso é visto como um movimento natural de carreira", diz Jairo Okret, da Korn/Ferry Internacional.
Fonte: Folha de S.Paulo