"Manicômio tributário" produz 34 normas por dia


30 jun 2010 - IR / Contribuições

Filtro de Busca Avançada

Custo para lidar com burocracia relacionada a impostos é estimado em R$ 20 bi

Especialista afirma que excesso de normas cria "parasitismo" da parte de advogados da área para seguir mudanças

Com a maior carga tributária entre os emergentes, o Brasil impõe ao setor privado um custo anual estimado em R$ 20 bilhões para lidar com a burocracia relacionada à arrecadação de impostos, taxas e contribuições.


Além de consumirem em impostos o equivalente a cerca de 35% do PIB, as três esferas de governo editaram mais de 240 mil diferentes normas tributárias em 20 anos, segundo o IBPT.
Isso obriga as empresas a manter dezenas de funcionários voltados exclusivamente para atender as exigências do Estado e acompanhar as mudanças. Na média desses 20 anos, foram editadas 34 alterações por dia.


"O que acaba ocorrendo é um parasitismo nosso, dos advogados, para se aproveitar dessa confusão", diz Carlos Sundfeld, da Direito GV.


Segundo ele, um dos exemplos emblemáticos do "manicômio tributário" é o histórico dos últimos anos da lei 8.666, de 1993, conhecida como Lei das Licitações.
É por meio dela que são fechados milhares de contratos entre a iniciativa privada e o setor público.


"Uma série de pequenas mudanças, no lugar de uma nova reformulação, acabou gerando mais incertezas e confusão", diz Sundfeld. Ele caracteriza a 8.666 hoje como "um desastre formal".


Antonio do Amaral, da OAB, diz que os custos e riscos relacionados à tributação fazem com que a "insegurança jurídica" seja o "tônus dominante" entre as empresas.
"Uma tributação não contemplada pode resultar, no limite, em multas que inviabilizam a empresa", diz.


Para João Eloi Olenike, presidente do IBPT, não é só o desacordo entre União, Estados e municípios que impede a reforma tributária para simplificar a arrecadação.


"O governo não quer mexer nisso, pois a verdade é que ele arrecada tudo o que precisa", diz Olenike.


Para Sundfeld, no que se refere à arrecadação, o sistema "é extremamente eficiente". "O problema é que não conseguimos burilar e simplificar. É disso que estamos falando."


Fonte: Folha de S.Paulo